HÉTEROS QUE FAZEM” OU GAYS ENCUBADOS?


Nós, seres humanos, temos uma tendência aristotélica de classificar tudo que está ao nosso redor, nomear e guardar em gavetinhas etiquetadas, como um grande arquivo de divisões rígidas e inflexíveis.
Fazemos isso com quase tudo que existe de concreto e abstrato na Natureza. Com a  sexualidade é a mesma coisa. Classificamos as identidades sexuais em Heterossexuais, Homossexuais, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e por aí vai. De tempos em tempos a sigla do movimento vai crescendo. De GLS já estamos em LGBT. Já vi grupos usarem LGBTTTS. Em Portugal já houve referências ocasionais a LGBTQI, que incluiu Queers e Intersexuais.
Na década de 90 surgiu outra etiqueta para as gavetinhas da mente humana: a expressão HSH, que quer dizer Homens que fazem Sexo com Homens. Foi uma expressão criada por médicos que estudavam DST’s e AIDS a fim de analisar a propagação das doenças entre homens que transavam com outros homens, independente se eles eram gays ou não.
Ora, daí surge o questionamento: se um homem faz sexo com outro homem, pela lógica, ele não seria gay?
Muitos defendem que não. Homens heterossexuais podem transar com outros homens sem se auto-afirmarem como gays. Muitos, inclusive, têm verdadeira aversão ao mundo gay e sua cultura. São homofóbicos e jamais se identificariam como homossexuais ou até mesmo como bissexuais. Neste grupo, além dos homens que ocasionalmente viram a casaca para o outro “time”, também estão incluídos os garotos de programa e os homens que transam com travestis.  É o pulo pra fora da “gavetinha” convencional.

Segundo estes héteros, o que os motiva a transarem com outros homens – quando não há o envolvimento por motivos financeiros -  é simplesmente o tesão do momento, a curiosidade, a vontade de experimentar algo diferente. Neste aspecto, a questão sentimental fica sempre de lado. Envolver-se emocionalmente com outro homem é algo repugnante para eles. “É coisa de viado!”. Eles apenas transam. Dando ou comendo, eles continuam se considerando homens com H maiúsculo. Namoram e casam-se com mulheres, têm filhos, constituem família e são felizes assim.

Por exemplo: nas prisões, como os homens héteros são privados de sexo, eles mantém relações sexuais com outros homens, gays ou não, para aliviar a tensão provocada pela privação de sexo. Estas relações se caracterizam somente pelo sexo na intenção de se obter o ogasmo. Não existe um envolvimento emocional nestas relações. Quando estes homens são libertados, fazem exclusivamente sexo hétero.
É algo difícil mesmo de compreender. Guardar estes homens na gaveta dos bissexuais seria a maneira mais coerente e mais fácil de classificá-los, além de generalista e estereotipada. Mas eles também parecem repudiar este rótulo. Preferem ser chamados de liberais, de comedores (embora a posição nem sempre seja essa), pois assumir-se bissexual seria assumir também o seu lado homossexual e isto eles negam até a morte.
Esta negação baseada em preconceito acaba gerando aquela velha discussão de que estes héteros que transam com homens nada mais são do que gays encubados e mal-resolvidos, o que também faz muito sentido.
Mas afinal o que realmente define a orientação sexual do homem: o sexo propriamente dito ou a identidade de cada um, com seus aspectos sentimentais, psicológicos e culturais?
Pode um homem transar com outro homem e continuar sendo classificado como hétero? Ou seria este homem um homossexual mal resolvido?